Diogo Infante
“A mensagem na hora do adeus”
Conheci-a em 1993, quando fui escolhido para interpretar o sobrinho de D. Benta em “A Banqueira do Povo”. Estava prestes a contracenar com a maior atriz portuguesa de todos os tempos. A Eunice tinha 65 anos e estava em plena forma, no auge das suas capacidades. Emanava uma energia régia, de quem tem perfeita noção da sua responsabilidade. Foi um dos maiores privilégios da minha vida, poder testemunhar o seu brutal talento em ação. A relação próxima e cúmplice das nossas personagens acabou por transbordar para a vida real, nascendo, desde aí, uma amizade que perdurou. Voltei a trabalhar com a Eunice em 2007, quando ambos integrámos, juntamente com a maravilhosa Isabel Abreu, o elenco de “Dúvida” de John Patrick Shanley, encenado por Ana Luísa Guimarães, no Teatro Maria Matos. Eunice interpretava brilhantemente a madre superior de uma escola católica, que suspeitava que um padre pudesse ter feito avanços impróprios a um miúdo. Voltei a trabalhar com Eunice em “O Ano do Pensamento Mágico” de Joan Didion, quando, já Diretor do TNDMII, fiz questão de a trazer de volta àquela que, durante tantos anos, tinha sido a sua casa. Entregou-se nas minhas mão com uma generosidade e confiança que nunca esquecerei. Mais recentemente aceitou ser a minha musa, na Curta-metragem “Olga Drummond”, um texto escrito e realizado a pensar nos atores seniores. Penso que acima de todas estas experiências maravilhosas e do muito que aprendi com a Eunice, o que mais prezo é a sua amizade, o seu carinho, o telefonema que, invariavelmente, me fazia a perguntar “Como estás?”. Estou bem Eunice, tenho saudades suas… Estou tão triste. Andei para lhe telefonar durante vários dias mas depois surgia uma coisa e outra… Quando a Lídia me ligou, algo em mim pressentiu.
Fiquei desolado, estou desolado. Entretanto o telefone começou a tocar, a pedirem reações mas eu não consigo falar sem me emocionar, precisei de tempo, precisei de tempo para processar, não quero fazer da minha dor um conteúdo mediático, até porque isto não é sobre mim. Foi este pensamento que me colocou no sítio certo e lembrei-me de tudo o que a Eunice nos deu, o tanto que ela nos deixa. Uma vida plena de vida e que lhe deu tanto material com que trabalhar como atriz. Como escrevia Joan Didion, a vida muda num instante. Lembrei-me do pensamento mágico… Se eu guardar os anéis, talvez ela volte…mas verdadeiramente a Eunice não partiu, porque é eterna. O seu lugar há muito que está reservado nos anais da história. A maior atriz Portuguesa de todos os tempos! Eunice. Obrigado por tudo, sobretudo pelo enorme privilégio de ter feito parte da minha vida…